Para a realização deste projeto foram feitas seis entrevistas com o fundador e líder da banda Inocentes, mais conversas com outros 23 personagens que conviveram com esse ícone da cultura suburbana da cidade, como João Gordo e Andreas Kisser. O resultado é uma grande-reportagem "punk" no estilo biografia contada de forma cronológica e desmembrada e postada sequencialmente abaixo.
‘Nós estamos aqui para revolucionar a MPB. Pra pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar nas flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer.’ Clemente Tadeu Nascimento, com apenas 19 anos, já demonstrava em suas palavras toda a atitude e insatisfação que o fez um dos caciques do movimento punk no Brasil. Compositor, instrumentista e um excelente letrista, participou de festivais que rodaram a periferia de São Paulo mostrando para sua geração a doutrina do “faça você mesmo”. Deu visibilidade aos menos favorecidos e discriminados, e mostrou ser acima de tudo um valente. Lutou contra a opressão de uma sociedade dominada pela ditadura militar e mudou o rumo da história da música brasileira.
Clemente já gravou 16 discos. Os mais importantes foram “Grito Suburbano”, o primeiro disco do punk nacional; “Começo do Fim do Mundo”, registro sonoro do maior festival punk do país; e “Pânico em SP”, lançado pela Warner Music, que fez da Inocentes a primeira banda punk brasileira em uma grande gravadora. Atuou em documentários, um dêles dirigido por Fernando Meireles, o consagrado diretor de “Cidade de Deus”, intitulado “Garotos do Subúrbio”, de 1982. Foi ator de seu próprio papel no curta-metragem ficcional “Opressão”, dirigido por Mirella Martinelli, lançado em 1993. No filme, enquanto toca com sua banda em uma casa noturna underground, o local é invadido por um grupo de skinheads nazistas que aparece para quebrar tudo e todos. Seu personagem é agredido e tem sua cabeça batida contra o chão por diversas vezes, o que provoca sua morte por traumatismo craniano.
Felizmente a ficção é bem diferente da realidade. Atualmente Clemente vive em paz. É apresentador do programa Estúdio Show Livre, exibido às terças e quintas-feiras pelo site showlivre.com, onde bandas de diferentes estilos são convidadas para tocar ao vivo. Segue sua carreira como músico e ainda divulga sua banda, Inocentes, na qual é o único membro remanescente desde a sua formação, em 1981. Além disso, ainda arruma tempo para dar aulas de produção musical, investir em novos projetos e cuidar dos filhos. Conhecer a trajetória de vida desse ícone da cultura punk paulistana é a oportunidade de entender melhor a própria história do rock nacional. Suas façanhas e aventuras promovendo shows na periferia e abrindo espaços em casas noturnas ajudaram a desenvolver o cenário musical do rock independente que é muito forte em todo o Brasil atualmente. Centenas de bandas, sem vínculo com gravadoras, encontram seu espaço na noite paulistana e sobrevivem fazendo shows influenciadas pela atitude punk do início da década de 1980. Saber mais sobre esse filho prodígio do rock nacional, que apesar de contestador promove a paz e o bom humor em seus espetáculos, é uma verdadeira injeção de inspiração inerente a uma história de superação e persistência.
O filho de seu Clementino...
“Quando o Clê começou com esse negócio de rock, nós da família tentamos levar ele para o samba. Nossa influência não deu certo, ele foi por seu caminho. Ele é muito assim:’é isso o que eu quero’.” (Cibele A. Nascimento, irmã de Clemente)
Filho de seu Clementino Lopes Nascimento e dona Alice Palmeira Nascimento, Clemente tem quatro irmãs: Cibele Aparecida Nascimento, 51, Márcia Aparecida Nascimento, 49, Marisa Palmeira Nascimento, 38, e Adriana Valéria Aparecida Nascimento, 34. Tem também um primo-irmão, Luis Carlos Nascimento, 41, e dois meios-irmãos por parte de pai que conheceu quando tinha 28 anos de idade: André Luis Nascimento, 39, e Martinha Regina Nascimento, 47.
Aos sete anos de idade era arrastado por Cibele e Márcia para o teatro Bandeirantes, onde iam assistir aos shows da Mini Guarda - programa apresentado por Ed Carlos (afilhado artístico de Roberto Carlos), nos anos 60 para a TV Bandeirantes. “A gente ia a pé da Rua Tamandaré até a Brigadeiro Luis Antônio para assistir ao programa. Na época, estavam construindo a 23 de Maio e a gente ia cortando caminho”, Márcia lembra o trajeto que faziam para ir até o teatro Bandeirantes. “Minhas irmãs me levavam para ver ‘Os Incríveis’ tocando ao vivo. Era o máximo!” A família morava no bairro da Aclimação e, para Clemente, “o legal de lá era morar perto do teatro.”
A casa da família era uma dessas edificações antigas, em estilo neoclássico, que ainda se vê caindo aos pedaços pelos cantos da cidade. Dividida em vários cômodos, abrigava diversas famílias. Era um cortiço mesmo. Para sustentar a família, seu Clementino vivia da renda de uma pequena loja que vendia de guarda-chuvas até rádios de pilha. Clemente a descreve como sendo uma “vitrine”, uma lojinha bem pequena que viria a desaparecer com a chegada dos camelôs em São Paulo.
Clementino gostava de música e foi um incentivador do filho. Tocava cavaquinho com destreza e seu estilo preferido era o chorinho. Quando Clemente começou a tocar rock sua irmã Márcia lembra qual foi a reação do pai. “No começo ele falava: pare com esse negócio de tocar essas músicas que ninguém conhece. Por que você não toca um samba, não toca um chorinho?” Pela família, Clemente deveria gostar de samba.” O pai, apesar de ter suas preferências musicais, freqüentava os shows do filho e gostava do sucesso que ele estava fazendo entre a garotada. Ele punha um chapéu coco bege na cabeça, o bornal debaixo do braço e ia ver o Clê tocar, conta Cibele. Às vezes, levava algum amigo para assistir, amigos que geralmente faziam a pergunta:
- Por que seu filho anda com essas roupas esquisitas?
E Clementino respondia com serenidade:
- É um tal de punk.
Quando Clemente saiu pela primeira vez em uma revista – na Galery Around – seu pai mostrava a publicação para os amigos falando sempre com orgulho: “Esse aí é meu filho”. Cibele revela ainda que Clemente, surpreso ao ver o pai no show falava para ela: “eu estava lá tocando quando de repente vi o pai no meio dos punks assistindo.”
‘Nós estamos aqui para revolucionar a MPB. Pra pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar nas flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer.’ Clemente Tadeu Nascimento, com apenas 19 anos, já demonstrava em suas palavras toda a atitude e insatisfação que o fez um dos caciques do movimento punk no Brasil. Compositor, instrumentista e um excelente letrista, participou de festivais que rodaram a periferia de São Paulo mostrando para sua geração a doutrina do “faça você mesmo”. Deu visibilidade aos menos favorecidos e discriminados, e mostrou ser acima de tudo um valente. Lutou contra a opressão de uma sociedade dominada pela ditadura militar e mudou o rumo da história da música brasileira.
Clemente já gravou 16 discos. Os mais importantes foram “Grito Suburbano”, o primeiro disco do punk nacional; “Começo do Fim do Mundo”, registro sonoro do maior festival punk do país; e “Pânico em SP”, lançado pela Warner Music, que fez da Inocentes a primeira banda punk brasileira em uma grande gravadora. Atuou em documentários, um dêles dirigido por Fernando Meireles, o consagrado diretor de “Cidade de Deus”, intitulado “Garotos do Subúrbio”, de 1982. Foi ator de seu próprio papel no curta-metragem ficcional “Opressão”, dirigido por Mirella Martinelli, lançado em 1993. No filme, enquanto toca com sua banda em uma casa noturna underground, o local é invadido por um grupo de skinheads nazistas que aparece para quebrar tudo e todos. Seu personagem é agredido e tem sua cabeça batida contra o chão por diversas vezes, o que provoca sua morte por traumatismo craniano.
Felizmente a ficção é bem diferente da realidade. Atualmente Clemente vive em paz. É apresentador do programa Estúdio Show Livre, exibido às terças e quintas-feiras pelo site showlivre.com, onde bandas de diferentes estilos são convidadas para tocar ao vivo. Segue sua carreira como músico e ainda divulga sua banda, Inocentes, na qual é o único membro remanescente desde a sua formação, em 1981. Além disso, ainda arruma tempo para dar aulas de produção musical, investir em novos projetos e cuidar dos filhos. Conhecer a trajetória de vida desse ícone da cultura punk paulistana é a oportunidade de entender melhor a própria história do rock nacional. Suas façanhas e aventuras promovendo shows na periferia e abrindo espaços em casas noturnas ajudaram a desenvolver o cenário musical do rock independente que é muito forte em todo o Brasil atualmente. Centenas de bandas, sem vínculo com gravadoras, encontram seu espaço na noite paulistana e sobrevivem fazendo shows influenciadas pela atitude punk do início da década de 1980. Saber mais sobre esse filho prodígio do rock nacional, que apesar de contestador promove a paz e o bom humor em seus espetáculos, é uma verdadeira injeção de inspiração inerente a uma história de superação e persistência.
O filho de seu Clementino...
“Quando o Clê começou com esse negócio de rock, nós da família tentamos levar ele para o samba. Nossa influência não deu certo, ele foi por seu caminho. Ele é muito assim:’é isso o que eu quero’.” (Cibele A. Nascimento, irmã de Clemente)
Filho de seu Clementino Lopes Nascimento e dona Alice Palmeira Nascimento, Clemente tem quatro irmãs: Cibele Aparecida Nascimento, 51, Márcia Aparecida Nascimento, 49, Marisa Palmeira Nascimento, 38, e Adriana Valéria Aparecida Nascimento, 34. Tem também um primo-irmão, Luis Carlos Nascimento, 41, e dois meios-irmãos por parte de pai que conheceu quando tinha 28 anos de idade: André Luis Nascimento, 39, e Martinha Regina Nascimento, 47.
Aos sete anos de idade era arrastado por Cibele e Márcia para o teatro Bandeirantes, onde iam assistir aos shows da Mini Guarda - programa apresentado por Ed Carlos (afilhado artístico de Roberto Carlos), nos anos 60 para a TV Bandeirantes. “A gente ia a pé da Rua Tamandaré até a Brigadeiro Luis Antônio para assistir ao programa. Na época, estavam construindo a 23 de Maio e a gente ia cortando caminho”, Márcia lembra o trajeto que faziam para ir até o teatro Bandeirantes. “Minhas irmãs me levavam para ver ‘Os Incríveis’ tocando ao vivo. Era o máximo!” A família morava no bairro da Aclimação e, para Clemente, “o legal de lá era morar perto do teatro.”
A casa da família era uma dessas edificações antigas, em estilo neoclássico, que ainda se vê caindo aos pedaços pelos cantos da cidade. Dividida em vários cômodos, abrigava diversas famílias. Era um cortiço mesmo. Para sustentar a família, seu Clementino vivia da renda de uma pequena loja que vendia de guarda-chuvas até rádios de pilha. Clemente a descreve como sendo uma “vitrine”, uma lojinha bem pequena que viria a desaparecer com a chegada dos camelôs em São Paulo.
Clementino gostava de música e foi um incentivador do filho. Tocava cavaquinho com destreza e seu estilo preferido era o chorinho. Quando Clemente começou a tocar rock sua irmã Márcia lembra qual foi a reação do pai. “No começo ele falava: pare com esse negócio de tocar essas músicas que ninguém conhece. Por que você não toca um samba, não toca um chorinho?” Pela família, Clemente deveria gostar de samba.” O pai, apesar de ter suas preferências musicais, freqüentava os shows do filho e gostava do sucesso que ele estava fazendo entre a garotada. Ele punha um chapéu coco bege na cabeça, o bornal debaixo do braço e ia ver o Clê tocar, conta Cibele. Às vezes, levava algum amigo para assistir, amigos que geralmente faziam a pergunta:
- Por que seu filho anda com essas roupas esquisitas?
E Clementino respondia com serenidade:
- É um tal de punk.
Quando Clemente saiu pela primeira vez em uma revista – na Galery Around – seu pai mostrava a publicação para os amigos falando sempre com orgulho: “Esse aí é meu filho”. Cibele revela ainda que Clemente, surpreso ao ver o pai no show falava para ela: “eu estava lá tocando quando de repente vi o pai no meio dos punks assistindo.”